PARA A CRIANÇA, NÃO HÁ ERRO
NO DESEMPENHO DE UMA TAREFA


Nas escolas, o processo mais comum de avaliação das tarefas propostas às crianças é o do CERTO e ERRADO, o das notas e conceitos. Isto é feito, entretanto, não da forma lúdica própria da criança, mas como um verdadeiro massacre sobre elas, classificando-as de uma forma geralmente brutal e irreversível. Com a poderosa tinta vermelha, o professor vai riscando provas e trabalhos... O que em geral, não se sabe é que uma criança não pode realizar uma tarefa que exija um nível mental que ela ainda não tenha atingido (que é o que normalmente ocorre). Não podemos, pois, admitir que exista CERTO e ERRADO, uma vez que sabemos que existem diferentes níveis de respostas a uma tarefa, dependendo dos níveis mentais atingidos pelas crianças, além de sabermos que tudo no universo é relativo...

Como Piaget diz que não se ensina estrutura mental (lógica, por exemplo), o mais honesto é esperar, respeitar o nível em que a criança se encontra, não esquecendo porém de desafiá-la para crescer.

Em uma educação libertadora, os pontos (notas, conceitos) servem de brincadeiras estimulantes para as crianças, podem  ser vistos como um jogo. As vitórias e derrotas devem ser dispersas pelos grupos. A nota individual deve ser utilizada o mínimo possível.

Isso depende também como o professor vê esta questão com ele mesmo e em seu universo pessoais! O professor reflete o que pensa, o que acredita e como se sente em relação ao mundo a partir de seus valores.

Todos os trabalhos feitos pelas crianças podem servir como um instrumento a mais para diagnosticar como elas pensam, que estrutura estão utilizando ao resolver problemas, para que possamos organizar-lhes tarefas correspondentes ao seu nível mental, de maneira gradualmente mais complexa, possibilitando, assim, estimular seu desenvolvimento de uma maneira contínua.

Quando uma criança erra uma tarefa proposta, ela denuncia, apenas, a ausência da estrutura mental para resolvê-la (quando, evidentemente, não for um problema de ordem afetiva). É necessário que se encare os resultados dos trabalhos realizados pelas crianças como um índice de suas necessidades ao invés de vê-los como uma sentença.

É interessante colocar que Jean Piaget iniciou seus estudos pesquisando as razões que levavam as crianças a responder errado as questões dos testes de inteligência. Como Piaget, os professores poderiam, de maneira geral, tomar os erros como os indicadores das estruturas cognitivas das crianças e servir-lhes para que se façam as perguntas: o que devo fazer agora? Recomeçar? Propiciar mais experiências? etc.

Colocar “certo” e “errado” em cadernos e provas , ainda mais em vermelho , rabiscando por cima da letra da criança, não modifica em nada a realidade cognitiva da criança, e decorar respostas, sabemos que é o caminho mais seguro para o esquecimento, além de ser um método agressivo, rude e que não considera os sentimentos de uma criança.

Uma exemplo: damos uma série de cartões com objetos, plantas, bichos e pessoas desenhados. Pedimos que as crianças os separem e / ou juntem-nos, formando conjuntos. Uma criança junta “todos os seres vivos” (pessoas, bichos e plantas) e os “não vivos” e uma segunda criança separa-os, formando vários agrupamentos pelo USO que se faz dos objetos (de comer, de beber, de vestir, etc.). Ora, não poderíamos dizer que uma acertou e a outra errou. Esses resultados  nos fornecem importante dado sobre as crianças. Sabemos que a primeira utilizou uma estrutura cognitiva PRÉ-OPERATÓRIO (coleções figurais). Ninguém acertou, ninguém errou; o que podemos dizer é que uma usa determinada estrutura e para a resolução de problemas e a outra usa uma outra estrutura.

Devemos procurar, pois em cada “erro” da criança, buscar as atividades que devem ser propostas e estimular seu desenvolvimento.